Reboot

Um exercício que faz parte é aprender a conviver com o “bom”, em detrimento do “perfeito”. Confesso que, nesse caso, termino derrotado — mas não totalmente; estou apenas mudando a direção do barco, enquanto as velas permanecem tão igualmente içadas quanto antes.

O projeto Arquivando Jogos já existe há pouco mais de um ano. Recentemente, renovei minhas assinaturas com a minha hospedagem e, ainda bem, temos mais um ano garantido. Sim, foi bastante caro. Tenho um péssimo hábito de gastar dinheiro com coisas que eu acho que preciso, em detrimento de outras que eu sei que preciso, mas às quais não dou o devido valor. Contudo, o meu sentimento por este projeto é, digamos, diferente.

O propósito ainda permanece muito claro para mim: jogar, catalogar e preservar o legado dos videogames para o futuro. Mas isso, a curto prazo, é muito vago — principalmente quando colocamos sob a luz dos conceitos de objetivos S.M.A.R.T. Logo, tal tarefa parece ser impossível (e, no fundo, eu acredito que seja mesmo!). Afinal, temos atualmente algumas dezenas, ou até mesmo centenas de milhares de jogos publicados oficialmente, sem considerar hacks e bootlegs. Supondo, portanto, que eu não ligue tanto para o fim, mas foque no processo, por onde começar? Qual plataforma escolher? Qual gênero ou franquia adotar? Sempre tive mais perguntas do que respostas — algo que sempre me afligiu — mas, aos poucos, vou encontrando respostas para elas.

Por que Nintendinho?

No começo, essa resposta era fácil para mim, mas eu não tinha muita noção dos impactos que essa decisão causaria. Basicamente, o NES, ou Nintendo Entertainment System, foi um console que eu sempre quis ter na infância. No pôster de jogos do meu SNES, havia um confuso esquema (para uma criança de nove anos) de conexão entre o NES e o SNES em uma TV, especificamente utilizando a entrada coaxial de antena (que saudades do canal 3!).

Além disso, o NES foi lançado oficialmente nos Estados Unidos em 1985, e hoje já é um console quarentão — assim como eu! Somos do mesmo ano. Super Mario World, um dos principais e maiores jogos de todos os tempos, também quarentou recentemente. Logo, o destino quis que tivéssemos — NES, Super Mario e eu — uma química forte.

Como forma de homenagem, decidi, portanto, começar o projeto pelos jogos de NES. O objetivo era simples: catalogar pelo menos os 50 principais jogos do console, em suas versões americanas. Com o passar do processo, fui criando mais e mais regras para mim mesmo. Logo, catalogar, para mim, significaria:

  1. Jogar e zerar o jogo

  2. Masterizar no RetroAchievements

  3. Capturar gameplay não comentada

  4. Criar vídeos verticais sobre a gameplay

  5. Criar postagem para o Instagram

  6. Criar a ficha do jogo no site, com todos os pormenores que isso implica

  7. Fazer uma análise do jogo no site

  8. Fazer uma análise em vídeo do jogo e agrupar todo o conteúdo

  9. Criar vídeos verticais sobre a análise do jogo

  10. Capturar materiais da época, como comerciais de TV e trailers

  11. Capturar pôsteres, encartes e fotos

  12. Criar vídeos verticais sobre curiosidades do jogo, com o intuito de trazer mais tráfego para o conteúdo principal (site e YouTube)

E assim comecei minha odisseia. Com muito orgulho, zerei seis jogos de NES da forma como eu havia estabelecido para mim: Super Mario Bros. 1, 2 e 3, Ninja Gaiden I e II e Kirby’s Adventure. O trabalho estava árduo, mas, na medida do possível, fluindo — até que comecei a jogar Ninja Gaiden III, e tudo desmoronou.

NES — Nintendo Entertainment System — é o grande responsável por fazer existir os videogames da forma que conhecemos hoje.

Ninja Gaiden III e a Perdição de um Creator

Ninja Gaiden III: The Ancient Ship of Doom é um jogo excelente no quesito de melhorar todas as dinâmicas dos títulos anteriores da franquia, com exceção de apenas uma coisa: a versão americana foi injustamente dificultada em vários aspectos, com o propósito único e exclusivo de gerar mais lucros ao sistema de locação de jogos.

Isso, por si só, não seria um problema. Com muito orgulho, posso dizer que masterizei os jogos anteriores. A questão é que eu não possuo nenhuma conexão nostálgica com os jogos de NES, e, portanto, minha vontade de seguir com o jogo foi, ao longo do tempo, minando meu desejo de falar, neste momento, sobre jogos de NES.

Estou com Ninja Gaiden III instalado no meu Steam Deck há quase um ano, e simplesmente, sem vontade de finalizá-lo. Isso implica que, de acordo com as regras que estabeleci para o projeto, eu não possa fazer uma análise do jogo — afinal, não tenho propriedade suficiente para tal. E, quando olho para alternativas de jogos dentro do console, todos me parecem, neste momento, igualmente difíceis e enfadonhos.

Com o passar dos meses, isso se tornou uma desculpa para eu deixar o projeto de lado. Logo, o hiato de semanas virou meses, e eu me vi perdido, sem saber o que fazer: de um lado, um arquivo de míseros seis jogos de NES no site e, do outro, muita má vontade de continuar nos 8-bits. Com muita relutância, então, decidi reiniciar o projeto.

Ninja Gaiden III: The Ancient Ship of Doom, para NES, foi artificialmente dificultado no ocidente para render alguns dólares a mais aos donos de locadoras.

O futuro do Arquivando Jogos

Isso tudo me fez pensar em como começar pelo SNES, em vez do NES, teria facilitado a minha vida em vários aspectos, pois:

  • Jogos de SNES, para mim, são mais atraentes;

  • Em média, são mais fáceis e mais divertidos;

  • É, sem sombra de dúvida, a plataforma que eu mais conheço, pois vivi ela por quase dez anos;

  • Tenho condições de zerar uma quantidade interessante de jogos da plataforma e, com isso, consigo gerar uma base inicial para o site e o YouTube.

É por isso, portanto, que vamos recomeçar o projeto — desta vez, com foco no 16-bits da Nintendo. Como primeiro trabalho, pretendo elaborar uma peça sobre a história do SNES. Eu sei que existem muitos e excelentes materiais internet afora sobre o console, mas esse é o meu momento de prestar homenagem ao meu grande amigo — e poder fazer do meu jeito.

Sobre o conteúdo de NES, ele ficaria estranhamente desconectado do resto. Eu estou desconectado desse conteúdo também. Logo, vou privá-lo e espero voltar a ele um dia — quem sabe, em breve.

Muitos aprendizados ao longo da estrada, e muito mais ainda a aprender, e a percorrer.

Foco no Processo

Sou uma pessoa autodiagnosticada com TOC — Transtorno Obsessivo-Compulsivo — e isso tende a me fazer reiniciar todas as coisas o tempo todo, por achar que elas não estão boas o suficiente.

Um exercício que faz parte é aprender a conviver com o “bom”, em detrimento do “perfeito”. Confesso que, nesse caso, termino derrotado — mas não totalmente; estou apenas mudando a direção do barco, enquanto as velas permanecem tão igualmente içadas quanto antes.

Fazer as coisas, independentemente do resultado, é melhor do que não fazer nada e esperar por resultados diferentes com o mesmo esforço. É por isso que sigo remando, certo de sua compreensão.

Nos vemos logo mais!!