Quando nos abrimos para entender e explorar essa história, com empatia e flexibilidade, conseguimos nos divertir e valorizar, mesmo com um clássico de 8 bits, que tem sua própria beleza e mérito atemporal.
Super Mario Bros. foi um enorme sucesso, com venda de aproximadamente 40 milhões de cópias, considerando as versões de NES e Famicom. Com isso, todos se perguntavam como seria o próximo jogo do famoso bigodudo encanador. Cerca de um ano depois, Shigeru Miyamoto e sua equipe de desenvolvedores se debruçaram na sequência da franquia; sem maiores anseios criativos para o nome do jogo, o resultado foi Super Mario Bros. 2: The Lost Levels.
Super Mario Bros. 2 foi lançado em formato de disco para o Famicom Disk System, um dispositivo que se conectava ao Famicom e permitia a leitura de mídias óticas, reduzindo o custo de produção dos jogos. Para essa continuação, Miyamoto queria criar um jogo mais desafiador, já que o jogo anterior havia se tornado um desafio trivial para as famílias japonesas. No entanto, não falaremos aqui sobre esse Super Mario Bros. 2 japonês, e, sim, da versão ocidental lançada na época, exclusivamente para consoles americanos e europeus.

Difícil, para quem?
Howard Phillips, gerente de localizações e testes de jogos na Nintendo of America, ao jogar o Super Mario Bros. 2 japonês, ficou preocupado com a dificuldade do jogo. Ele acreditava que o público americano e europeu não estava preparado para os desafios propostos por Miyamoto, e aconselhou a Big N a não lançar o jogo nesses territórios. Vale lembrar também que, nessa época, os EUA ainda estavam se recuperando do crash dos videogames de 1983, e um jogo mal lançado poderia pôr em risco todo o legado que a Nintendo estava construindo em território americano.

Assim, Minoru Arakawa, presidente da Nintendo of America, sob o aconselhamento de Phillips e alinhado à Nintendo do Japão, decide então adaptar um jogo para o Ocidente que havia sido recentemente lançado pela mesma equipe de Miyamoto, e que possuía vários elementos em comum com Super Mario Bros., como a tela de rolagem lateral e os movimentos de correr e pular. Trata-se de Yume Kōjō: Doki Doki Panic, um jogo encomendado à Nintendo pela Fuji Television para promover um evento de televisão. Por ora, não falaremos mais de Doki Doki Panic, pois ele terá o seu momento oportuno de brilhar. Assim, sob a anuência de Phillips e Arakawa, em 24 de outubro de 1988, cerca de três anos após Super Mario Bros., Super Mario Bros. 2 dava as suas caras no mercado ocidental.
Mario no Multiverso da Loucura
Super Mario Bros. 2 — daqui em diante, falaremos apenas da versão americana — é bem diferente de seu antecessor, dada toda a sua história de concepção. A principal mudança está no fato de que Mario e seus amigos não podem mais derrotar os inimigos com um simples pulo. Agora, o jogador pode interagir com os inimigos de formas criativas, como usá-los para alcançar plataformas mais altas ou distantes, uma mecânica essencial em algumas fases.
Se Super Mario Bros. 2 fosse lançado nos dias de hoje, considerando o nível de exigência do público atual, é provável que fosse bastante criticado por deixar de lado algumas das principais características que definiram o jogo original. Porém, nos anos 80, com um público menos experiente e mais receptivo a novidades, a sequência de Mario conseguiu vender 7,46 milhões de cópias no Ocidente. Embora o número seja modesto em comparação às vendas de Super Mario Bros., é importante lembrar que o primeiro jogo era frequentemente vendido junto com os consoles, o que favorecia os números.

Para avaliar Super Mario Bros. 2 de maneira justa, é necessário deixar de lado o preciosismo e analisar o jogo por seus próprios méritos, sem compará-lo diretamente ao seu predecessor. O título surpreende já no início, apresentando uma tela de seleção de personagens que permite ao jogador escolher, a cada fase, entre Mario, Luigi, Toad e a Princesa Peach, cada um com suas particularidades de gameplay. Mario é o mais equilibrado, com boa velocidade, altura de pulo e controle. Luigi pula mais alto, mas tem menor controle nos movimentos. Toad é o mais rápido, porém o mais pesado. Já a Princesa Peach, favorita de muitos, é a mais lenta, mas compensa com sua habilidade única de flutuar no ar por alguns segundos, algo crucial em várias fases.
Em Super Mario Bros. 2, Mario e sua turma são transportados para um mundo paralelo chamado Subcon, onde devem salvar as criaturas locais da tirania de Wart, um vilão que usa um poder mágico para manter todos sob seu controle. Para derrotar Wart e restaurar a paz, os heróis precisam percorrer uma série de diferentes mundos, enfrentando inimigos e obstáculos únicos. O jogo é dividido em sete mundos, cada um com três fases — exceto o mundo 7, que possui apenas duas, felizmente. Cada mundo está ambientado em um bioma muito bem definido, como deserto, gelo, nuvens, entre outros. Diferentemente do remake disponível na coletânea Super Mario All-Stars, do Super Nintendo, não é possível salvar o progresso. Isso significa que o jogador precisa ir até o final “em uma sentada”, isto é, de uma vez só, sem interrupções.
Como mencionado anteriormente, o jogador pode subir em quase todos os inimigos. Além de usá-los como meio de locomoção, é possível pegá-los e arremessá-los contra outros inimigos. A velocidade de movimento influencia diretamente na distância do arremesso, tornando-se uma habilidade essencial para quem deseja concluir o jogo.

Os Power-Ups estão presentes, mas de forma diferente. Os cogumelos podem ser encontrados em uma dimensão paralela chamada Subspace, um tipo de mundo invertido. Eles aumentam a energia do jogador em até quatro corações. As estrelas aparecem na tela após derrotar uma certa quantidade de inimigos, enquanto coletar cerejas faz surgir corações flutuantes que restauram energia. Já as moedas coletadas no Subspace são usadas no caça-níquel entre as fases, onde é possível ganhar vidas extras. O arsenal de itens também inclui cascos, plantas, bombas, e blocos POW, herdados dos jogos antecessores de Super Mario Bros..

Um desafio que beira a frustração
Super Mario Bros. 2 não é nada trivial. Cumpre bem o seu papel de clássico 8-bit, em uma época em que jogos compensavam a sua curta duração apelando para a dificuldade, muitas vezes, injusta. Não é o caso desse jogo, pois a sua dificuldade faz sentido, e com persistência, poderá ser superada.
Para os amantes de conquistas, prepare-se para passar por muita raiva e frustração. O conjunto desenvolvido pela comunidade do Retroachievements é desafiador. Por exemplo, em algum momento, você vai precisar finalizar o jogo sem morrer nenhuma vez; garanto que isso vai te tirar do sério algumas vezes.

Eu joguei a versão de Super Mario Bros. 2 de NES apenas esse ano, algumas décadas depois de tê-lo conhecido na coletânea de SNES. Aqui vai o mesmo conselho que dei na análise de Super Mario Bros.: caso seja a sua primeira vez, opte pela versão de SNES, onde os gráficos são mais bem polidos, e a qualidade sonora é consideravelmente superior. A mecânica e a física das duas versões são idênticas, então, isto não deve ser um fator de escolha.
Uma joia bruta; ainda assim, é uma joia
Super Mario Bros. 2 foi corresponsável pela solidificação da Nintendo no mercado ocidental, reafirmando o compromisso da empresa em entregar jogos de qualidade para o seu público. Mesmo sendo uma adaptação, foi muito bem recebido, e faz parte da memória de muitos oitentistas e noventistas por aí. Os videogames, assim, como a música e o cinema, contam a história de uma época. Quando nos abrimos para entender e explorar essa história, com empatia e flexibilidade, conseguimos nos divertir e valorizar, mesmo com um clássico de 8 bits, que tem sua própria beleza e mérito atemporal.
Confira abaixo também todo o nosso acerto sobre Super Mario Bros.2.
Análise em Vídeo por Arquivando Jogos
Gameplay não Comentada por Arquivando Jogos
Comerciais de TV
Manual de Instruções (EUA)

Publisher: Nintendo
Desenvolvedora: Nintendo R&D4
Plataforma: Nintendo Entertainment System
Lançamento: 9, outubro, 1988 (AN)
Disruptivo se comparado aos demais jogos, ainda assim, Super Mario Bros. 2 consegue divertir, mesmo com um nível de dificuldade elevado. O fato de não ser injusto como o seu par japonês o coloca em um patamar acima. Recomendado para todos que desejam experimentar um jogo de plataforma diferente do habitual da franquia.
Prós
- História mais elaborada
- Gameplay bastante precisa
- Possibilidade de escolher entre quatro personagens jogáveis, todos com características únicas
- Plot Twist no final
Contras
- Gráfico e trilha sonora indigesta para quem não joga com nostalgia
- Impossibilidade de salvar o progresso
- Trilha sonora repetitiva