...podemos ir mais longe e afirmar que muitos dos jogos narrativamente marcantes da indústria atual são frutos do trabalho visionário de criadores audaciosos do passado, como Yoshizawa.
Dois Ninjas em um duelo mortal em um campo aberto tomado pela relva. Em uma noite de lua cheia, Ken Hayabusa cai nas mãos do seu algoz, um ninja desconhecido.
Um dia após o desaparecimento de seu pai, Ryu Hayabusa, seu filho, encontra uma carta deixada por ele. Na mensagem, seu pai explicava que, caso não retornasse, caberia ao filho assumir o papel de portador da Espada do Dragão. Essa espada, um artefato ancestral, esteve presente na família desde os tempos antigos. Ryu, portando a espada, deveria ir para a América encontrar um arqueólogo chamado Walter Smith.
Assim, inicia a história de Ninja Gaiden. O jogo foi lançado no Japão em dezembro de 1988, na América em março de 1989, e na Europa, com o nome de Shadow Warriors, em agosto de 1991. Embora tenha sido desenvolvido principalmente para o Nintendo Entertainment System (NES), em 1992 também foi lançado para o PC Engine no Japão. A versão dos consoles também foi um desenvolvimento quase paralelo ao Ninja Gaiden dos Arcades, de 1988, mas diferente em sua concepção, por se tratar de um beat’em up.
Um Filme dentro do Jogo
De cara, Ninja Gaiden impressiona. Foi um dos primeiros jogos a trazer o conceito de cutscenes, que, basicamente, contam uma história durante o jogo. Assistir à história de Ninja Gaiden hoje, narrada por meio de pixel art, pode ser um pouco desanimador devido à tecnologia de quase 40 anos atrás. No entanto, se o espectador conseguir abstrair essa questão e se colocar no lugar de alguém dos anos 80, em uma época tecnológica fértil, mas ainda embrionária, poderá captar a magia que Ninja Gaiden transmitiu. Não à toa que, até hoje, o jogo frequenta praticamente todas as listas dos melhores jogos de NES.
De fato, os consoles da terceira geração e anteriores raramente se preocuparam em contar histórias, já que eram extensões dos jogos de arcade, sempre focados em superar desafios e alcançar altas pontuações. Afinal, quem não gostaria de ver seu nickname no topo do Hi-Score em uma máquina de arcade, não é mesmo? Podemos, então, considerar Hideo Yoshizawa, diretor e roteirista de Ninja Gaiden, um homem à frente de seu tempo, pois teve a visão de entregar ao público não apenas um jogo, mas um verdadeiro romance, bem estruturado, com direito a começo, meio e fim, dentro das limitações tecnológicas da época. Essa abordagem narrativa influenciou diretamente o uso de cutscenes e storytelling cinematográfico nos jogos, criando um padrão que viria a ser explorado amplamente em títulos futuros. Essa visão inovadora ajudou a redefinir a maneira como os jogos poderiam contar histórias, ampliando seu impacto cultural e artístico. Além disso, podemos ir mais longe e afirmar que muitos dos jogos narrativamente marcantes da indústria atual são frutos do trabalho visionário de criadores audaciosos do passado, como Yoshizawa.
Um Leão na pele de um Cordeiro
Enquanto as inovações narrativas de Ninja Gaiden são provavelmente os seus maiores pontos fortes, já não podemos dizer o mesmo da gameplay, e, aqui, considerem minha experiência pessoal como a minha verdade para trazer esta discussão. Facilmente, Ninja Gaiden foi um dos jogos mais difíceis que joguei em toda a minha vida.
A começar pelo que chamamos de hitbox — “caixa” virtual ao redor de um personagem ou objeto que determina se um ataque, interação ou impacto ocorre —, ela simplesmente é… terrível! É extremamente difícil compreender exatamente o ponto em que você acerta um inimigo na tela e o momento em que deixa de acertar. Na minha opinião, essa é a parte mais desafiadora de aprender no jogo.
Se isso não bastasse, Ninja Gaiden apresenta desafios que testam sua paciência e habilidades, com uma gameplay deliberadamente projetada para fazê-lo perder várias e várias vezes. É sabido que a grande maioria dos jogos de NES era artificialmente difícil, visando garantir mais horas de jogo em contraste à sua curta duração, para que o cliente sentisse que o jogo “valia a pena”. Afinal, ninguém queria que um jogo comprado por algumas dezenas de dólares tivesse uma vida útil de apenas 45 minutos (duração da nossa longplay não comentada).
Embora não tenha um sistema de game over, o jogo equilibra isso com um desafio extremo: três chefes na última fase que precisam ser derrotados em sequência, de uma só vez. Se o jogador perder, volta ao início da fase e deve refazer todo o caminho para tentar novamente. Isso faz com que os jogadores busquem chegar às lutas de chefe com a habilidade chamada Spinning Slash. Essa técnica torna o protagonista invencível no ar enquanto é executada, além de permitir atingir o alvo inúmeras vezes em um único pulo. Essa habilidade é praticamente obrigatória em algumas conquistas do jogo no RetroAchievements, como as que pedem que os chefes sejam derrotados sem tomar nenhum dano.
Quase um filme de Sessão da Tarde
A gameplay de Ninja Gaiden, combinada com sua trilha sonora — que, diga-se de passagem, é excelente —, remete aos filmes oitentistas exibidos na Sessão da Tarde, na Globo, ou no Cinema em Casa, no SBT. Produções como as estreladas por Jackie Chan e Jean Claude Van Damme, entre outros, vêm imediatamente à mente. É um misto de “tiro, porrada e bomba”. Em alguns momentos, há tantos elementos na tela que o jogador pode ficar confuso, o que prejudica consideravelmente a experiência.
Ninja Gaiden é um jogo que, na minha opinião, envelheceu mal, mas tornou-se “cult” e um nome frequente em listas de jogos clássicos. Recomendo especialmente para aqueles que desejam entender como eram os jogos de antigamente ou para os fanáticos por conquistas que buscam se gabar de terem dominado um dos títulos mais desafiadores do NES.
Análise em Vídeo por Arquivando Jogos
Gameplay não Comentada por Arquivando Jogos
Comerciais de TV
Manual de Instruções (EUA)
Publisher: Tecmo
Desenvolvedora: Tecmo
Plataforma: Nintendo Entertainment System
Lançamento: março, 1989 (AN)
Com uma dificuldade notória, Ninja Gaiden também é lembrado por suas cutscenes cinematográficas inovadoras, que ajudaram a contar a história de forma imersiva.
Presente na maioria das listas de melhores jogos para o console, bem como no coração dos jogadores oitentistas.
Prós
- História contada por custscenes, algo incomun na época
- Trilha sonora cativante
Contras
- Dificuldade extrema, artificial e punitiva
- Problemas na hitbox do jogo, dificuldade em saber onde acertar os inimigos
